“’Lixo é um erro de design”, você já ouviu essa frase? Ela representa perfeitamente o problema que criamos ao desenvolver uma série de tecnologias, sem pensar em suas consequências . Entender o que é economia circular e praticar seus preceitos é a chave para contornarmos esses problemas.
Diferença entre economia circular e economia linear
Não é de hoje que o lixo é um problema de saúde e meio ambiente.
Se voltarmos alguns séculos atrás, podemos lembrar de problemas de saneamento básico, quando as comunidades cresciam e não havia uma solução correta para o descarte de rejeitos humanos e restos de comida, que eram praticamente os únicos resíduos que produzíamos.
Com a globalização, houve o aumento do consumo e consequentemente de mercadorias dos mais variados materiais, fazendo com que o problema se tornasse ainda maior . A verdade é que nossa economia foi baseada por muito tempo na linearidade.
Na economia linear, uma matéria-prima é extraída, fabricada e depois descartada . E qual é o impacto desse processo?
- Alta demanda de matéria-prima não renovável, gerando problemas ambientais e sociais.
- Contaminação de áreas, afetando importantes recursos, como a água e o solo.
- Problemas sociais, expondo pessoas a grandes lixões poluentes e disseminadores de doenças.
- Perda financeira ao encerrar o ciclo de um produto, quando ele ainda poderia voltar para a cadeia gerando empregos e receita.
A economia linear é a razão da existência da economia circular . Se o “Lixo é um erro de design”, na economia circular vamos pensar em um produto desde a extração de toda e qualquer matéria-prima, até o último dia da sua vida útil.
Afinal, o que é economia circular?
Não existe um único autor apontado como criador da economia circular, esse conceito é uma construção feita a partir do pensamento de vários estudiosos sobre os limites da natureza, os impactos que a humanidade está causando pelo estilo de vida adotado e as consequências a longo prazo.
De forma simplificada, basta olharmos para a natureza:
Tudo volta para o ciclo. Uma planta nasce, se torna uma árvore, dá frutos; um animal come esse fruto e a semente volta para a terra; o animal um dia morre e se torna adubo para a terra, possibilitando que nasçam novas vidas.
Portanto, podemos dizer que, a economia circular é a implantação do ciclo natural da vida na Terra, mas com insumos fabricados pelos humanos.
Um produto bem desenhado é desenvolvido pensando em como gerar benefícios em todo o seu processo e não apenas temporariamente para aquele que consome.
Por isso, três princípios regem a economia circular:
- Eliminar desperdício e diminuir a poluição;
- Circular produtos e materiais mantendo o seu valor máximo;
- Regenerar a natureza.
Como nós extraímos e manejamos matéria-prima, como fazemos e usamos os produtos e
que destino damos ao material no final do ciclo, são pontos que direcionam a criação de qualquer produto na economia circular.
Para entendermos melhor o conceito, trazemos aqui o Diagrama da Borboleta, desenvolvido pela Fundação Ellen McArthur, referência no tema:
Fonte: Fundação Ellen McArthur
De um lado estão os produtos renováveis, que devem ser encaminhados para melhor tratamento, passando por processos como digestão anaeróbica e captura de biogás.
Do outro lado estão os materiais de disponibilidade limitada, que precisam ter seu tempo de vida ampliado, antes de serem reutilizados, redistribuídos, remanufaturados e, por fim, reciclados.
Para concluir, outro aspecto que direciona o desenvolvimento da economia circular são os 4 R’s:
- Reduzir;
- Reutilizar;
- Reparar;
- Reciclar.
Alguns teóricos falam de 3 R’s e outros de 6 R’s, mas o importante é entendermos que na economia circular, nada vai para o “lixo”, tudo se reaproveita, voltando para o ciclo de vida.
Por que é importante implementarmos a economia circular?
A economia circular não é apenas uma forma inteligente de fazermos com que o mercado possa continuar operando de forma saudável, como também é essencial para preservar o futuro da humanidade.
Essa frase pode parecer forte, mas a verdade é que as projeções para os próximos anos não são muito positivas e isso é fruto do estilo de vida, produção e consumo que a sociedade adotou nos últimos anos.
A Terra não é apenas cíclica, como seus recursos são limitados. Hoje nós usamos em apenas 6 meses todos os recursos naturais que poderíamos usar em um ano.
Esse comportamento está gerando impactos como as mudanças climáticas, aquecimento global, extinção de importantes espécies para a biodiversidade, etc.
Implementar a economia circular é trabalhar por um futuro mais positivo.
Exemplos práticos da economia circular
Para entender melhor o que é economia circular, vamos trazer exemplos práticos dentro da gestão de resíduos nos Ecoparques da Orizon:
- 1. Começamos pela coleta urbana, que é encaminhada para um centro de tratamento da Orizon.
- 2. O material é separado e destinado para:
- Decomposição anaeróbica.
- Compostagem.
- Produção de Combustíveis Derivados de Resíduos.
- Reciclagem.
- 3. Na decomposição anaeróbica o resíduo é tratado para ser aproveitado ao máximo:
- Produção de biogás e biometano.
- Produção de energia.
- Créditos de carbono incentivando serviços ambientais.
- Água de reuso com o tratamento do chorume.
- 4. A compostagem pode ser encaminhada para a adubação de cultivos (fertilizantes orgânicos).
- 5. Os Combustíveis Derivados de Resíduos são conduzidos para substituir combustíveis fósseis em fornos industriais.
- 6. Os materiais recicláveis voltam para o ciclo, podendo se tornar um novo produto e matéria-prima.
Como você pode notar, um Ecoparque, que esteja devidamente equipado, está dentro do conceito de economia circular, beneficiando cada material e retornando para um ciclo produtivo.
Porém, não é apenas na gestão de resíduos que temos exemplos de economia circular, esta é apenas a ponta final de todo um conjunto.
Desde o início, na concepção de um produto, devemos pensar em toda a cadeia e ciclo de vida. Por exemplo, um produto de limpeza nos preceitos da circularidade deve ter como características:
- Trabalhar com matéria-prima renovável, incentivando projetos regenerativos;
- Embalagem que possa retornar para a cadeia ou que seja biodegradável;
- Fazer a logística reversa facilitando o descarte do produto.
Podemos concluir que a economia circular não é apenas uma maneira da empresa se destacar em um mercado que exige cada vez mais consciência ambiental e social, mas, principalmente, é uma ferramenta de questionamento do tradicional modus operandi de produção e consumo.
Por meio de um olhar sistêmico e ações coletivas é que se gera uma economia circular.