Um dos maiores ganhos ambientais do mercado de carbono é a possibilidade da preservação de um material que antes era desperdiçado através do retorno financeiro para conservação.
Cada um dos setores possui um impacto e alcance diferentes no mercado de carbono. Neste artigo vamos entender as principais características e diferenças dos créditos de carbono provenientes de resíduos e das florestas.
Qual setor mais emite GEE
Tradicionalmente, as emissões de gases de efeito estufa são categorizadas em cinco setores: energia, agricultura, indústria, mudança do uso da terra e floresta e, por último, resíduos.
O uso da terra e floresta é disparadamente o maior emissor de GEE, proveniente do mal uso dessas áreas, conectado com outros setores, como derrubada de árvores para a agropecuária, exploração de madeira, mineração ou avanço de áreas urbanas.
Segundo a SEEG, em 2021, o uso de terra foi responsável por 49% das emissões totais de gases de efeito estufa.
Fonte: SEEG, 2021
Enquanto isso, o setor de resíduos está em quinto lugar na lista de maiores emissores de GEE, porém, quando passamos apenas para a emissão de metano, este setor sobe para o segundo lugar.
Grande parte da emissão de GEE advinda dos resíduos está em sua disposição final, 64,1%, em lixões ou aterros controlados.
Como os resíduos geram crédito de carbono
Os créditos de carbono advindos de resíduos fazem parte da evolução na gestão e tecnologia desses rejeitos que antes eram apenas dispostos em lixões e aterros controlados, de uma forma que gerava diversos impactos negativos para o ambiente e sociedade.
Com o avanço das tecnologias, hoje encontramos centros de gestão de resíduos que não apenas dispõe o material, como conseguem fazer a melhor destinação para cada item (reciclagem, compostagem, coprocessamento), além da captura de gás metano gerados no processo de decomposição dos rejeitos.
É justamente desta captura de gás metano, seguido da queima por flare ou encaminhamento para geração energética, substituindo os combustíveis fósseis ou outros gases naturais, que ocorre a criação de crédito de carbono.
- Mais captura de gás metano, menos gás na atmosfera = crédito de carbono
Essa é uma explicação resumida, mas que ilustra bem o caminho para que um resíduo possa entrar no mercado de carbono.
Um processo feito dentro de grandes centros de tratamento, que possam tratar uma quantidade significativa de CH₄, comercializando a sua não emissão.
Como a floresta gera crédito de carbono
O uso da terra e florestas é a maior causa de emissões de GEE na atmosfera e o impacto do mau uso desses espaços não se limita a isso. O desmatamento tem várias outras severas consequências, como perda de biodiversidade, alteração no fluxo das águas pluviais, perda da capacidade de geração de oxigênio e outros serviços ecossistêmicos.
Essas são algumas das razões que fazem com que o setor de floresta seja o mais visado e desenvolvido dentro do mercado de carbono.
A preservação de áreas cobertas e regeneração de áreas degradadas podem resultar na geração de crédito de carbono, ajudando com que produtores rurais se beneficiem economicamente ao manter a floresta de pé, por meio de pagamento por serviços ambientais, sem precisar vender ou usar seus lotes para práticas exploratórias.
O REDD+ é um exemplo desse modelo de incentivo. Desenvolvido pela UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), visa pagar aos países em desenvolvimento por sua redução de emissão de GEE decorrente do desmatamento e da degradação da floresta.
No Brasil temos também o projeto Floresta+ Carbono, do Governo Federal, que incentiva o mercado voluntário de carbono, promovendo o pagamento por serviços ambientais.
Características e diferenças dos créditos de carbono provenientes de resíduos vs floresta
Apesar de ambos os setores serem fortes e potenciais geradores de crédito de carbono, não podemos fazer uma comparação direta entre um e outro. Isto porque ambos os setores precisam atuar de forma complementar.
Porém, podemos destacar algumas das principais características e diferenças entre eles.
Resíduos | Terra e floresta | |
Emissão | 91,1 Mt CO₂ e* | 1.118 Mt CO2e* |
Remoção | 0,4 Mt CH₄ | 667 Mt CO2e* |
Fonte do crédito | Disposição de resíduos com captura de gás metano, realizando a queima por flare ou geração de energia. | Projetos de preservação e regeneração de áreas florestais. |
Regulamentações relacionadas | Lei n.º 12.305/2010Lei n.º 14.026/2020 | REDD+ Floresta+ Carbono Reserva Legal |
Benefícios | – Diminuição de metano na atmosfera.- Geração de energia renovável e menos poluente.- Tratamento completo do resíduo evitando contaminação de solo, água e do ar.- Melhor aproveitamento econômico dos resíduos. | – Preservação da biodiversidade.- Retenção de CO₂ no solo.- Captura de GEE na atmosfera.- Conservação de árvores e sistemas que ajudam no controle da temperatura da Terra.- Proteção de recursos hídricos.- Incentivo da bioeconomia. |
*SEEG – Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, Observatório do Clima, acessado em [21/12/2022] – seeg.eco.br
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