
O Brasil é um país de dimensões continentais. Com os mais diferentes biomas, culturas e estruturas, os desafios da gestão de resíduos no país são inúmeros, acarretando impactos ambientais, sociais e econômicos.
Contudo, com o avanço de tecnologias verdes, desenvolvimento de empresas de valorização de resíduos e implementação de práticas de economia circular na legislação brasileira, não apenas os desafios estão cada vez mais claros e as soluções mais próximas.
Panorama da Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil
A ABREMA (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente), divulga anualmente um panorama com os principais dados do setor. Em 2024, foi revelado que 41% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) tiveram destinação ambientalmente inadequada.
Apesar de 2024 ser o ano em que estava prevista a extinção dos lixões no Brasil, o Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SNIS), revelou a existência de 1.572 lixões a céu aberto no país e 598 aterros irregulares. Realidade que acontece especialmente pela falta de recursos financeiros para o setor.
Embora estes números sejam inquietantes, o Panorama de 2024 mostrou dados positivos, como o aumento da economia circular na gestão de resíduos sólidos urbanos. 59% dos resíduos que são destinados corretamente estão sendo gradativamente encaminhados para uma cadeia que fará o reaproveitamento do material.
O relatório ressalta soluções como a compostagem, coprocessamento e a reciclagem como alternativas conscientes, ambientalmente corretas e economicamente viáveis.
Principais desafios da Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil
Entender quais são os principais desafios da Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil é imprescindível para encontrar as soluções mais adequadas.
Destinação inadequada dos resíduos
Mais de 41% dos resíduos têm destinação inadequada, como lixões, queima ou enterramento irregular. Este número revela a importância de uma maior fiscalização, assim como educação e incentivo para a destinação adequada.
Baixa taxa de reciclagem e dependência do trabalho informal
Apesar do país, em 2024,, ter destinado 59% dos resíduos corretamente, apenas 8,3% foram encaminhados para a reciclagem.
Além disso, 67% dos resíduos são reciclados através da coleta informal, feita por catadores autônomos, com pouca estrutura, apoio e retorno financeiro.
Falta de dados e controle
A falta de tecnologia e fiscalização faz com que muitos dados ainda sejam estimados, especialmente sobre coleta informal e recuperação de materiais, dificultando o planejamento e monitoramento eficaz de políticas públicas.
Desigualdades regionais
O norte e nordeste apresentam os piores índices de coleta e destinação adequada. Na região Norte, por exemplo, apenas 38% dos resíduos vão para aterros sanitários.
Esses números indicam falta de infraestrutura e investimentos nas regiões mais vulneráveis.
Altos custos e baixa eficiência
Os municípios brasileiros gastaram R$ 37 bilhões com a gestão de resíduos sólidos urbanos em 2023, segundo a ABREMA. O custo per capita mais alto está no Sudeste, mas ainda assim os resultados não acompanham os investimentos de forma proporcional, indicando a necessidade de soluções locais mais eficientes.
Baixa valorização dos resíduos orgânicos
Apesar do aumento da valorização dos resíduos orgânicos, este número ainda é pequeno. Apenas 0,06% dos resíduos gerados vão para o coprocessamento e 0,4% dos resíduos vão para compostagem (Fonte: ABREMA)..
Baixa adesão e estrutura para logística reversa
Embora existam sistemas de logística reversa para mais de 13 tipos de produtos (como pneus, eletrônicos e medicamentos), a eficiência varia muito de região, e muitos ainda operam com índices baixos de cobertura ou recuperação.
Falta de integração com economia circular
O Brasil continua em transição de um modelo linear (extrair-produzir-descartar) para um modelo circular. Faltam incentivos, infraestrutura e educação para valorização de resíduos.
Participação social e educação ambiental limitadas
O engajamento das empresas e população nas ações de consumo consciente e separação adequada ainda é baixo e existem poucas opções de educação ambiental continuada.
Caminhos para a Solução
Apesar da complexidade dos desafios, o setor de resíduos apresenta um grande potencial de melhorias e oportunidades econômicas. Ações regionalizadas, que considerem as realidades locais, são essenciais para o avanço.
Por exemplo:
- Em cidades grandes, com pouco espaço para aterros, usinas de recuperação energética podem ser a melhor alternativa.
- Em regiões agrícolas, com alta produção de orgânicos, plantas de biogás e biometano são altamente eficientes e sustentáveis.
Para transformar esse cenário, é necessário informação, investimento, fiscalização, políticas públicas eficazes e participação social ativa.